Implicações entre o local e o global para
o rádio
Por Elane Gomes
O fenômeno da globalização traz para o
rádio não só desafios quanto ao conteúdo e à programação, mas também uma
verdadeira luta pela sobrevivência, que se dá principalmente porque alguns
aspectos dos processos globais caminham, em parte, para direções diferentes
das do rádio. O primeiro
tende a conceber a idéia de uma sociedade global, homogeneizada, o segundo,
para sobreviver à hegemonia da TV, dos grandes conglomerados e às novas mídias,
buscou encontrar saídas e um espaço neste novo cenário, explorando a
segmentação e o local.
Segundo Joana Puntel, “a globalização
pode ser definida como ‘intensificação das relações sociais em escala mundial,
que interliga zonas distantes entre si de tal forma que os acontecimentos
locais são modelados sobre fatos que chegam de longa distância e vice-versa’(...)
constitui hoje uma das molas centrais da mudança a que assistimos e que se
desenvolverá no século XXI”. (PUNTEL, 2008 p. 89).
Embora a globalização ostente um discurso
de respeito pela autonomia de povos e nações, “o conceito Estado-Nação está em
declínio, e a sociedade global em
formação. Tudo o
que é local, regional e continental é determinado pelos movimentos da sociedade
global em plena expansão”. (PUNTEL, 2008 p. 90).
Essa tendência exige um novo critério e
mais uma vez, uma nova estratégia para o rádio de modo que ele possa se
enquadrar aos novos ambientes e à cultura que também vai se configurando com a
globalização.
A sociedade atual tem um outro tipo de relação com os meios de
comunicação. O rádio por sua vez, precisa se reestruturar e se readequar a este
ambiente. A nova cultura criou nas pessoas a habilidade de estar em qualquer
lugar, conectada em algum aparelho de mídia, que a leva também a outros
espaços. Elas tiram fotos que imediatamente já estão nas redes sociais e podem
ser vistas por pessoas de culturas, línguas e regiões geográficas diferentes.
Quem escuta, quer também ver, quem assiste já quer comentar e compartilhar,
quem lê num blog, pode imediatamente acrescentar algo ao texto. A sociedade não
só recebe, mas gera conteúdo, critica e publica suas opiniões. A idéia de um
receptor passa ser agora a de um “usuário”. Estes são apenas alguns exemplos
que mostram que, na sociedade global, um mesmo indivíduo caminha pelas diversas
plataformas midiáticas, interage, consome e produz.
Essa sociedade traz encarnada o imaginário simbólico, gerado por
este tipo de comunicação midiática que favorece a globalização. Os meios de
comunicação tradicionais estão buscando se enquadrar a estas novas estruturas.
Redes Via Satélite
Para o rádio, uma das grandes influências da era global foi a
criação e o lançamento do
primeiro satélite para a comunicação, em 1964, o Intelsat, para gerenciar
vários satélites de comunicação e prover a teledifusão de imagens e telefonia. Tal serviço ajudou a
ampliar os mercados neste setor. A partir daí dão-se início às operações em
rede via satélite que também globaliza a transmissão radiofônica.
Muitas emissoras cruzam as fronteiras
regionais e locais, surgem as parcerias e
abre-se um mercado amplo de ouvintes e anunciantes. Criam-se as redes de rádio
e grandes empresas alcançam hegemonia. As emissoras operam numa política de
interdependência visando um menor custo e maior lucro. Não se pode deixar de
conceber este tipo de transmissão via satélite como um fenômeno global.
Algumas emissoras, que não fazem parte de
um grande grupo de comunicação, podem decidir entrar em rede com ele, comprando
apenas alguns programas. Dentre elas, algumas optam por comprar alguns poucos
pacotes e manter uma programação regional. Para não se afastar dos assuntos
locais e continuar prestando
serviços.
É possível ver neste caso uma saída para
o rádio. O mundo global amplia a prática de parcerias como forma de agir e é
esta a idéia implícita no formato de operação em rede.
Rádio na internet
O estar
no espaço da internet é uma das mudanças que gera uma reestruturação também na
forma de interatividade usada pelo meio. Um exemplo dessa mudança seria o fato
de hoje as pessoas “assistirem” a um programa de uma rádio convencional pela
internet. Muitas emissoras, até mesmo locais, têm usado do recurso da imagem,
através da webcam no estúdio para conquistar uma nova audiência neste espaço.
Aqui, os programas podem ser ouvidos e “assistidos”. Muda-se o conceito de
rádio.
Mas tanto na operação em rede via
satélite quanto na internet as
preocupações com a identidade local continuam e em ambos os casos algumas
saídas são interessantes: uma
rádio de uma determinada cidade, que decide transmitir um
programa sobre este lugar para a cultura de outros países, onde lá haverá
pessoas desta tal cidade, conseguirá criar no imaginário deste grupo a
ideia de estar de volta à
sua pátria. É a forma de trazer o local para o global. A este processo dá-se o nome de glocalização. Na internet as
rádios locais têm esta mesma possibilidade. Uma rádio que adota uma programação
local, na web, vai atingir um público que nunca antes alcançaria no tipo de
transmissão convencional.
Exemplos de local articulado no global
Debruçando-se sobre este aspecto,
pesquisadores revelam que as emissoras pela internet passam “a ter a
possibilidade de serem ouvidas por outros pequenos grupos espalhados
geograficamente em uma comunidade virtual.” (TRIGO-DE-SOUZA, Rádio &
Internet: O porquê do sucesso desse casamento. In: BARBOSA FILHO, André (ogs.).Rádio:
sintonia do futuro, p. 296, 2004). De
acordo com esta afirmação de Lygia Maria Trigo-de-Souza, conclui-se que o
local, lançado na rede global, pode formar uma ampla audiência daquele
segmento. Por exemplo, uma rádio do Nordeste, que tenha adotado uma programação
de músicas da cultura desta região, pode conquistar a audiência de nordestinos
espalhados no Brasil e em diversos países, criando assim um público mundial formado por pessoas que curtem aquele
estilo musical e que são naturais deste lugar do mundo. A emissora continuará
sendo segmentada, mas agora terá um público ampliado e, por outro lado, os
anunciantes também terão uma clientela expandida. Este fenômeno vem sendo
chamado de hipersegmentação ou também glocalização.
Assim como vem sobrevivendo trabalhando o
local/regional. É possível que, na internet, o rádio também se desenvolva
assim, - embora ela seja uma rede mundial - pelo fato de despertarem o
interesse de pessoas em diversas partes do mundo por aquele local que a rádio comunica.
As emissoras locais na internet servirão como um meio de recrutamento. Por isso
é que, para os mais otimistas, o rádio não precisa perder o regionalismo mesmo
estando nesta mídia de alcance mundial.
Elane Gomes
Fb/ reinventandooradio